O convite – por Oriah Mountain Dreamer
Não me interessa saber como você ganha a vida. Quero saber o que mais deseja e se ousa
sonhar em satisfazer os anseios do seu coração.
Não me interessa saber sua idade. Quero saber se você correria o risco de parecer tolo por
amor, pelo seu sonho, pela aventura de estar vivo. Não me interessa saber que planetas estão em quadratura com sua lua. O que eu quero saber
é se você já foi até o fundo de sua própria tristeza, se as traições da vida o enriqueceram ou
se você se retraiu e se fechou, com medo de mais dor.
Quero saber se você consegue conviver com a dor, a minha ou a sua, sem tentar escondê-la,
disfarçá-la ou remediá-la. Quero saber se você é capaz de conviver com a alegria, a minha ou
a sua, de dançar com total abandono e deixar o êxtase penetrar até a ponta dos seus dedos,
sem nos advertir que sejamos cuidadosos, que sejamos realistas, que nos lembremos das
limitações da condição humana.
Não me interessa se a história que você me conta é verdadeira. Quero saber se é capaz de
desapontar o outro para se manter fiel a si mesmo. Se é capaz de suportar uma acusação de
traição e não trair sua própria alma, ou ser infiel e, mesmo assim, ser digno de confiança.
Quero saber se você é capaz de enxergar a beleza no dia a dia, ainda que ela não seja bonita,
e fazer dela a fonte da sua vida.
Quero saber se você consegue viver com o fracasso, o seu e o meu, e ainda assim pôr-se de
pé na beira do lago e gritar para o reflexo prateado da lua cheia: “Sim!”
Não me interessa saber onde você mora ou quanto dinheiro tem. Quero saber se, após uma
noite de tristeza e desespero, exausto e ferido até os ossos, é capaz de fazer o que precisa ser
feito para alimentar seus filhos.
Não me interessa quem você conhece ou como chegou até aqui. Quero saber se vai
permanecer no centro do fogo comigo sem recuar.
Não me interessa onde, o que ou com quem estudou. Quero saber o que o sustenta, no seu
íntimo, quando tudo mais desmorona.
Quero saber se é capaz de ficar só consigo mesmo e se nos momentos vazios realmente gosta
da sua companhia.
Texto extraído do livro: “O convite”, de Oriah Mountain Dreamer, Editora Sextante.
Tradução de Maria Helena Rangel